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O jogo da imitação

Se você, meu querido leitor, assim com eu, aprecia um bom cinema, decerto deve ter assistido ao premiado filme que dá o título ao artigo de hoje (The Imitation Game, 2014), e que conta a história do matemático inglês Alan Turing, responsável por decifrar o código alemão Enigma da segunda guerra mundial a partir da construção de intrincada máquina que simulava (imitava) aquilo que os inimigos faziam. Não me estendo no assunto, pois não quero estragar a sua diversão caso você ainda não o tenha visto, mas vou aproveitar o tema para tocar em assunto igualmente importante para nossa guerra particular ao orçamento descontrolado: a imitação de padrões.

Vivendo em uma sociedade cada vez mais conectada, possivelmente você participa de grupos sociais, os mais diversos: colegas de trabalho, familiares, amigos da antiga escola, copanheiros de faculdade, amizades virtuais, parceiros de atividades esportivas e muitos, muitos outros. E cada um destes grupos possui padrões comuns de identidade e comportamento... Por exemplo, se você é ciclista, possivelmente conversa sobre os novos modelos de capacete, pedal e vestimenta mais adequada para o passeio de longa distância que irá fazer no próximo fim de semana, não é mesmo?

Até aí tudo bem, não poderia ser mesmo diferente já que é justamente o elo comum que o faz participar de determinado grupo. Entretanto, se formos analisar individualmente os componentes de cada agrupamento, percebemos que, pelo menos no que diz respeito ao objetivo central de nossos artigos – as finanças do bolso – as diferenças são por vezes acentuadas. Voltando ao exemplo do ciclismo, apenas no quesito principal, a bicicleta, uma rápida olhada na Internet me mostrou modelos custando desde modestos R$ 549 até fantásticos R$ 14.999... E observe bem que não fui a fundo na pesquisa, pois parei no segundo site que encontrei; dizem que há ainda mais caras!

E é justamente aqui que o problema começa, pois não raro, muitos tentam acompanhar o padrão de gasto (ou investimento) dos mais abastados para se sentirem aceitos pelo grupo. Precisa ser assim? Entendo que não, pois se o objetivo do grupo é o convívio, a aventura, o prazer de ver uma meta cumprida, de sentar em um barzinho para jogar conversa fora após a longa pedalada, não será o preço da bicicleta ou o modelo do capacete que deverão determinar o tamanho da diversão... Da mesma forma que chegar no topo em primeiro ou em último lugar também não o são, todos terão uma história e risadas a dar, terminado o evento.

Trouxe este exemplo, mas que fique claro que esta ideia de imitar padrão alheio é mais comum do que se pensa: a moça que compra a bolsa em suaves 12 prestações porque a colega do trabalho tem uma igual, o vizinho que opta pelo automóvel importado para fazer frente à pick-up do síndico, o recém-formado que gasta metade do seu salário em uma balada para acompanhar o amigo que, talvez ele desconheça, é filho do dono da empresa onde trabalha, o analista que frequenta restaurantes caros diariamente na hora do almoço para estar próximo à chefia.

Usufruir dos prazeres da vida, mesmo que caros, faz parte do desejo de cada um. Mas é preciso cuidado redobrado pois no afã de querer parecer mais do que se é, o bolso pode sofrer pesadas perdas, que não necessariamente conseguirão ser recuperadas mais à frente, quando o padrão destes gastos estiver adequado ao padrão das receitas. Mais sábio seria, na medida do possível, procurar estar junto a estes grupos mantendo a própria individualidade orçamentária.

Termino o artigo com um caso real e de final trágico: Pedro, dentista renomado, tinha um consultório que vivia cheio, fila de espera e uma receita mensal muito generosa. Vindo de uma tradicional família, sempre frequentou os melhores ambientes, restaurantes caros, e grupos exclusivos, formados na maioria dos casos por empresários com bastante bala na agulha. Foram pelo menos quinze anos vivendo desta forma, com poupança praticamente inexistente, mas um acidente levou-lhe a vida. Por não perceber que ao acompanhar o ritmo de uma turma bem mais abastada que ele sacrificou seu potencial de poupança, gerou uma situação de insegurança financeira para sua família, pois com seu falecimento foi preciso mudar a escola dos filhos, devolver o caro apartamento onde morava de aluguel, vender automóveis, motocicletas, cavalos e demais brinquedos. E infelizmente o produto final desta venda não foi suficiente para que a viúva adquirisse uma moradia em caráter permanente. Triste estória...

Um grande abraço e até a próxima!

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