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A DÚVIDA DA DÍVIDA

Um dos grandes dilemas que o cidadão normal enfrenta – e já nos primeiros momentos do ano que chega – é o acumulo de despesas extras que, se não planejadas, costumam derrubar orçamentos, dos mais modestos aos mais sofisticados. Falo de alguns impostos – IPTU e IPVA, principalmente – e, para aqueles que ainda estudam ou têm dependentes que estudam, das despesas associadas ao ensino: matrícula, anuidade e material escolar. Qual deles deve-se pagar primeiro é a pergunta que mais ouço...

Praticamente em todos os casos, o pagamento à vista permitirá descontos sobre o preço total da fatura (matrícula ou material escolares), da anuidade ou dos impostos (IPVA ou IPTU). Grosso modo, o valor total dos juros que você irá pagar corresponderá ao desconto concedido, e, ainda que muitos se confundam, nem sempre os juros maiores estarão associados &agrve;s maiores faturas, já que dependem também do desconto dado e do prazo total do financiamento. Por isso é que é importante, antes de tudo, se calcular a taxa de juros embutida no financiamento. Uso uma calculadora financeira para chegar aos resultados, mas você, meu querido leitor, pode chegar a eles por meio da calculadora financeira existente no site do Banco Central (http://www.bcb.gov.br/?CALCULADORA), opção Financiamento, que tal? Nos exemplos que se seguem, propositalmente não coloquei cidades (IPTU) ou estados específicos (IPVA), pois escrevo o artigo no primeiro dia do ano, e não tenho certeza de que os novos prazos, descontos e valores estejam vigentes.

- Prefeitura da Cidade XYZ:

Pode-se parcelar em até dez vezes ou se pagar à vista com desconto de 7%. Assim, supondo o valor total do seu imposto em R1 2.000 (10 parcelas de R1 200), o desconto à vista equivalerá a R1 140, fazendo com que a cota única seja de R1 1.860. Entretanto, como a primeira cota vence no mesmo dia que a cota única, o valor financiado será de R1 1.660 (=R1 1.860 – R1 200), pagos nas nove parcelas seguintes. A taxa cobrada por esta prefeitura, portanto, de 1,65% ao mês, poderá ser obtida fazendo-se No de Meses=9, Valor da prestação=200 e Valor financiado=1.660.

- IPVA do Estado ABC:

O parcelamento também pode ser feito em até três vezes ou, à vista, com desconto de 10%. Assim, supondo o valor total do seu imposto em R1 3.000 (3 parcelas de R1 1.000), o desconto à vista equivalerá a R1 300 fazendo com que a cota única seja de R1 2.700. Entretanto, como a primeira cota vence no mesmo dia que a cota única, o valor financiado será de R1 1.700 (=R1 2.700 – R1 1.000), pagos nas duas parcelas seguintes. A taxa cobrada pelo Estado ABC é de 11,55% ao mês, obtida fazendo-se No de Meses=2, Valor da prestação=1000 e Valor financiado=1.700.

- Anuidade escolar:

Num exemplo hipotético, suponha que a anuidade da escola do seu filho custe R1 6.000 em 12 parcelas de R1 500 ou paga à vista com desconto de 1%. Neste caso, admitindo que a primeira parcela vença no mesmo dia que a parcela única, você estará sendo cobrado em 0,18% ao mês ao optar em financiar (valor financiado de R1 5.440).

Façamos agora algumas simulações para pessoas que morem na cidade XYZ e tenham IPTU de R1 2.000, IPVA no valor de R1 3.000 e anuidade escolar de R1 6.000, nas condições citadas nos parágrafos anteriores. Para balizarmos nossas respostas, lembremos que as taxas mensais embutidas nos parcelamentos são: 1,65% (IPTU), 11,55% (IPVA) e 0,18% (Anuidade); adicionalmente, trabalhemos com as hipóteses: quem tem recursos guardados, recebe 0,6% ao mês de remuneração, e além disso, é possível se obter empréstimos bancários à taxa de 5% mensais.

  1. João tem guardados R1 10.500, equivalentes aos valores à vista do IPVA, do IPTU e da anuidade escolar. Sua melhor opção, admitindo que não tenha dívidas vencidas e esteja com o orçamento equilibrado, é pagar os impostos à vista já que o financiamento destas despesas será feito a taxas maiores do que aquela que ele obtém em suas aplicações (1,65% e 11,55% contra 0,6% ao mês, respectivamente). João não deverá, entretanto, pagar a anuidade à vista: a escola de seu filho o financia a uma taxa de juros tão baixa (0,18%) que vale a pena manter seus recursos aplicados (a 0,6%) e ir pagando os estudos parceladamente.
  2. José tem guardados R1 3.400, o que daria para liquidar o IPTU ou o IPVA à vista e as primeiras parcelas do que precisar ser financiado. Na dúvida do que pagar primeiro, escolheu a despesa que cobra a maior taxa pelo financiamento, no caso o IPVA (R1 2.700 à vista) pois recebe 0,6% em suas aplicações contra 11.55% cobrados pelo Estado. José ainda estava na dúvida se devia pegar um empréstimo para também pagar o IPTU à vista, mas desistiu ao perceber que o financiamento da Prefeitura é mais barato do que o financiamento bancário. Com os R1 700 que sobraram após pagar o IPVA à vista, pagará a primeira mensalidade escolar e a primeira cota do IPTU.
  3. Joaquim não tem recursos guardados e assim, a única forma de arcar com essas despesas será pelo financiamento. Mas como na rede bancária só consegue empréstimos pagando 5% ao mês, optará – corretamente – por financiar no banco apenas o IPVA já que os juros cobrados pelo estado superam os juros bancários (11,55% contra 5%). Para as demais despesas, pagará a prazo à prefeitura e à escola pois os juros oferecidos em seus parcelamentos ainda são menores que os juros bancários (1,65% e 0,18% contra 5%).

Em resumo, cada caso é um caso e o importante é saber as taxas cobradas nos financiamentos diretos antes de se tomar qualquer decisão, não é mesmo?

Um grande abraço e até a próxima!

O autor autoriza a publicação do artigo.

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